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Platão: Eros e a Filosofia

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Platão: Eros e a Filosofia

Introdução

Platão, um dos filósofos mais influentes da Grécia Antiga, abordou diversos temas fundamentais para a filosofia ocidental, dentre os quais se destaca o conceito de Eros. 

Em seus diálogos, especialmente no "Banquete" e no "Fedro", Platão explora Eros não apenas como uma forma de amor, mas como um impulso fundamental que guia a alma em direção ao conhecimento e à verdade. 

Segundo Platão, "Eros é o desejo de algo que ainda não possuímos", destacando a busca constante por algo além do imediato. 

Este artigo examina a complexa relação entre Eros e a filosofia platônica, mostrando como este conceito permeia suas ideias sobre o conhecimento, a beleza e a ascensão espiritual.

Desenvolvimento

No "Banquete", Platão apresenta várias visões sobre Eros através dos discursos dos participantes do simpósio. 

Sócrates, relatando as palavras de Diotima, uma sacerdotisa, descreve Eros como um "daimon" intermediário entre os deuses e os humanos. 

Diotima afirma que "Eros é o desejo pelo bem e pelo belo", sugerindo que o amor é uma força motriz que impulsiona a alma humana em sua busca por algo superior.

Diotima também introduz a ideia de que Eros é uma forma de ascensão espiritual. 

Ela descreve uma "escada do amor" que começa com a atração física e, através de um processo de refinamento, leva ao amor pelas almas e, finalmente, ao amor pelo conhecimento e pela verdade. 

Segundo ela, "aquele que ama corretamente deve ascender do amor por um único corpo ao amor por todos os corpos, e daí ao amor pelas almas, pelas leis e, finalmente, pelo conhecimento". 

Esta ascensão culmina na contemplação do Belo em si, uma ideia central na teoria platônica das formas.

No "Fedro", Platão expande essa visão de Eros, associando-o à alma e sua busca pelo conhecimento. 

Ele compara a alma humana a uma carruagem puxada por dois cavalos, um nobre e outro indisciplinado, representando respectivamente o desejo racional e o irracional. 

O auriga, que representa a razão, deve controlar os cavalos para ascender ao mundo das formas. 

Platão afirma que "Eros, quando bem dirigido, pode levar a alma a contemplar a verdade e a alcançar a verdadeira sabedoria".

Para Platão, a beleza desempenha um papel crucial na função de Eros. 

No "Banquete", ele argumenta que "a beleza é a única coisa que é ao mesmo tempo divina e visível", sugerindo que a experiência da beleza pode elevar a alma para além do mundo sensível. 

Platão vê a beleza como um reflexo do divino, algo que inspira a alma a buscar o conhecimento e a verdade.

Eros, portanto, é mais do que um mero desejo físico; é um desejo metafísico que impulsiona a alma em direção ao divino. 

No "Fedro", Platão descreve a visão da beleza como uma lembrança das formas que a alma conheceu antes de encarnar. 

Ele afirma que "a alma humana, quando vê a beleza neste mundo, lembra-se da verdadeira beleza e é inspirada a alcançar novamente esse estado".

Essa visão de Eros como um guia para a verdade e o conhecimento tem profundas implicações para a ética e a política platônica. 

Platão sugere que o verdadeiro filósofo é aquele que ama a sabedoria e é movido por Eros a buscar a verdade. 

Em "A República", ele defende que "os governantes devem ser filósofos", pois só aqueles que conhecem a verdade podem governar com justiça e sabedoria.

A pedagogia platônica também é influenciada por essa visão de Eros. 

Platão acredita que a educação deve cultivar o amor pelo conhecimento e pela verdade, guiando os jovens através da "escada do amor" para que eles possam alcançar a sabedoria. 

Em "A República", ele afirma que "a educação é a arte de orientar a alma para a verdade", uma missão impulsionada por Eros.

Platão também reconhece os perigos do Eros mal direcionado. Ele alerta que o desejo pode facilmente se transformar em obsessão e levar ao desvio moral. 

No "Fedro", ele menciona que "Eros pode ser tanto um grande bem quanto um grande mal", dependendo de como é direcionado. 

Esta ambiguidade reflete a complexidade do conceito platônico de Eros, que abrange tanto potencialidades elevadas quanto riscos consideráveis.

A influência de Platão sobre a concepção de Eros se estendeu além da filosofia grega, impactando profundamente o pensamento ocidental. 

Santo Agostinho, por exemplo, incorporou a ideia platônica de Eros em sua teologia, reinterpretando o amor como um caminho para Deus. 

Ele escreveu que "meu amor é o meu peso: para onde quer que vá, é ele que me leva", ecoando a visão platônica de Eros como um impulso espiritual.

Na Renascença, os filósofos neoplatônicos como Marsilio Ficino e Pico della Mirandola revisitaram e expandiram as ideias de Platão sobre Eros, associando-o à busca pela beleza e à realização espiritual. 

Ficino, em seu "Comentário sobre o Banquete de Platão", argumenta que "Eros é o elo entre o humano e o divino, um poder que nos eleva para além do mundo material". 

Esta interpretação manteve viva a relevância do conceito platônico de Eros na filosofia e na cultura ocidental.

Além disso, a psicologia moderna também encontrou valor nas ideias platônicas sobre Eros. 

Carl Jung, por exemplo, viu Eros como uma força psíquica que move o indivíduo em direção à integração e à totalidade. 

Ele afirmou que "Eros é a função psicológica que leva à união e ao relacionamento", refletindo a influência duradoura de Platão sobre a compreensão do amor e do desejo.

Conclusão

O conceito de Eros em Platão é complexo e multifacetado, representando tanto um desejo físico quanto um impulso espiritual em direção ao conhecimento e à verdade. 

Através de seus diálogos, Platão mostrou como Eros pode ser uma força poderosa que eleva a alma e guia o ser humano na busca pela sabedoria. 

Suas ideias continuam a ressoar na filosofia, na teologia e na psicologia, demonstrando a profunda e duradoura influência de sua visão sobre Eros.

Referências

  1. Platão, "Banquete"
  2. Platão, "Fedro"
  3. Platão, "A República"
  4. Russell, B. "História da Filosofia Ocidental"
  5. Campbell, J. "O Poder do Mito"
  6. Vernant, J.P. "Mito e Pensamento entre os Gregos"
  7. Eliade, M. "O Sagrado e o Profano"
  8. Ficino, M. "Comentário sobre o Banquete de Platão"
  9. Santo Agostinho, "Confissões"
  10. Jung, C.G. "O Desenvolvimento da Personalidade"
  11. Mirandola, P. "Oratio de Hominis Dignitate"
  12. Nietzsche, F. "O Nascimento da Tragédia"
  13. Ricoeur, P. "A Simbólica do Mal"
  14. Irigaray, L. "O Esquecimento do Ar em Martin Heidegger"
  15. Hadot, P. "O que é a Filosofia Antiga?"

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